25 de abril de 2010

“Simplesmente, o Cheres”

É “dessa vontade de conhecer o mundo que nasceu no Cheres um fazedor de poesias”. Pela leitura de Amar não é preciso, pode-se encontrar em Luiz Fernando Cheres não apenas um “fazedor de poesias”, como se auto-define o autor do livro, mas um contista distinto ao habitual das produções literárias ponta-grossenses.

A começar pela estrutura da obra, o leitor se depara com um livro sem começo nem fim definidos. A poesia, iniciada em um lado do livro em “Amar Não é Preciso”, se encontra com a coletânea de contos iniciada na face oposta, em “Um Beijo Longe dos Lábios”. Por mais que “Amar Não é Preciso” chame mais à atenção, com fonte e ilustração mais evidentes, é do leitor a escolha de um início e final à leitura.

A poética do autor é simples na escrita, e desperta reflexões. Poemas e contos, em sua maioria curtos, se estendem ao imaginário, e deixam ao leitor a sensação de que há muito mais nos textos além do que está escrito. Como no poema I em “Quatro poemas perdidos”, uma das seis repartições de “Amar Não é Preciso”, no qual o autor metaforiza as pedras para mostrar que há mais por trás dos acontecimentos do que se poderia esperar. Esta é uma das possíveis interpretações.

Seus textos são carregados de uma sensualidade que se destaca mais na beleza do corpo humano, do que nas ações dos personagens. O tom erótico de alguns poemas e contos, como em “Sem Que Ninguém Veja”, onde palavras são usadas sem nenhum pudor, são características do autor. Aos mais acostumados a poemas clássicos, a escrita de Cheres pode causar certo choque. “... teu longo beijo/teu mar de sêmen/em língua de cão/mansa/molhada...”.

Os contos possuem caráter urbano, e por mais intimistas que sejam, retratam o sujeito da cidade, como no conto “Quando a Vida Continua”, e “O cheiro dele”, onde um trabalhador apodrecido internamente é devorado por abutres. Além disso, a religiosidade local é tratada de forma criativa em contos como “Corpo de Cristo” e “Luta Corporal”. “Outro dia chamaram o padre. Aí, ela recebeu a hóstia e - virgem do céu! -devolveu...Vomitou o corpo de Cristo!...”, diz o texto do conto “Corpo de Cristo”.

Érik Gasparetto


Serviço
Livro:
Amar Não é Preciso - Um Beijo Longe dos Lábios

Autor: Luiz Fernando Cheres

Editora: UEPG/PROEX, 2009. 174p.

Capa: A partir de Magritte, Os amantes, 1928

Fotos: Érik Gasparetto

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