A começar pela estrutura da obra, o leitor se depara com um livro sem começo nem fim definidos. A poesia, iniciada em um lado do livro em “Amar Não é Preciso”, se encontra com a coletânea de contos iniciada na face oposta, em “Um Beijo Longe dos Lábios”. Por mais que “Amar Não é Preciso” chame mais à atenção, com fonte e ilustração mais evidentes, é do leitor a escolha de um início e final à leitura.
A poética do autor é simples na escrita, e desperta reflexões. Poemas e contos, em sua maioria curtos, se estendem ao imaginário, e deixam ao leitor a sensação de que há muito mais nos textos além do que está escrito. Como no poema I em “Quatro poemas perdidos”, uma das seis repartições de “Amar Não é Preciso”, no qual o autor metaforiza as pedras para mostrar que há mais por trás dos acontecimentos do que se poderia esperar. Esta é uma das possíveis interpretações.
Os contos possuem caráter urbano, e por mais intimistas que sejam, retratam o sujeito da cidade, como no conto “Quando a Vida Continua”, e “O cheiro dele”, onde um trabalhador apodrecido internamente é devorado por abutres. Além disso, a religiosidade local é tratada de forma criativa em contos como “Corpo de Cristo” e “Luta Corporal”. “Outro dia chamaram o padre. Aí, ela recebeu a hóstia e - virgem do céu! -devolveu...Vomitou o corpo de Cristo!...”, diz o texto do conto “Corpo de Cristo”.
Érik Gasparetto
Serviço
Livro: Amar Não é Preciso - Um Beijo Longe dos Lábios
Autor: Luiz Fernando Cheres
Editora: UEPG/PROEX, 2009. 174p.
Capa: A partir de Magritte, Os amantes, 1928
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